"A essa altura eu desejaria ter ouvido aquele velho louco, antes de partir em busca dessa impossível jornada. A meses estamos viajando, os homens estão cansados, a água esta quase acabando. Teremos que deixar os camelos irem para conseguirmos voltar, caso não achemos uma fonte de água. Eu já perdi a conta de quantas vezes dividi minha reserva particular com homens que vão a pé. Me dá pena."
"Não sei ao certo se conseguiremos, talvez depois daquela colina finalmente avistaremos as ruínas. De que meu pai está em busca. Ele não deve estar preocupado com que esses homens não voltem nunca mais, para ele tudo não passa de mais uma busca por um item raro. Por vezes já caminhei a pé com os membros deixando outro descansar seus cansados pés nas costas desse velho camelo."
"Eles não comparam-me com meu pai, eles me chamam de generoso e bondoso, um título que não devo merecer. Já tirei vidas em defesa de pessoas humildes. Mas não cabe a mim retirar a vida de alguém, por mais sujo que sua consciência seja. Todos merecem chances de redimir-se perante os olhos da população, ou de sua religião. Não há sinal de ruínas após essa colina, temo que a comida não dure até lá."
"Um dos homens que começou essa jornada, já não está entre nós. Foi atingindo pelo mal do deserto. Tentou roubar a água para si, e matar seus companheiros, antes que o pior fosse causado ele desmaiou já sem vida. Espero que esse artefato possa recompensar a família desse nobre homem. A ganância está presente em todos os homens, um mal que move os ricos burgueses, e até mesmo a igreja algumas vezes."
"Começamos com três comboios há seis meses atrás. Nenhuma fatalidade durante a perda do primeiro e do segundo, durante a tempestade de dias atrás. Espero que os homens que estavam neles, ainda estejam bem. Eles não obedeceram a ordem de parar, e arriscaram desobedecendo as ordens daquele mouro de avançada idade. Tive que interromper meus estudos médicos para representar meu pai nessa expedição."
"Um dos homens está mal, febril. Temo que não consiga resistir até o fim da noite. Já irá escurecer daqui algum tempo. Conversarei com os membros restantes da expedição sobre qual rumo tomar. Tentarei convencê-los a não perder a esperança. Voltar já não é mais uma opção. A cidade mais próxima está a quase um mês de viagem, e nossos suprimentos, não devem durar mais do que uma semana."
"Anoitece, e somos obrigados a parar. A noite no deserto é cruel, mais fria que o topo de muitas montanhas. Uma fogueira é improvisada com a árvore seca que encontramos no início da manhã. Isso vai ser o suficiente para mantê-los aquecidos. Eu observarei o homem, farei companhia em seus últimos momentos de vida. O seu irmão menor está ao seu lado. Vejo-o o rezando para que seus deuses salvem ele."
"Peço que ele saia da carroça, e esquente-se junto aos outros. Ele recusa-se no começo, mas logo seu fraco corpo treme por causa do frio, e ele mesmo relutante vai para a fogueira junto aos outros. Tiro minha manta e cubro o homem. A noite vai passando e já com a lua ao meio do céu, ele vem ao óbito. Mais uma baixa na expedição. O seu irmão ainda dorme, como contarei que sua única família desapareceu?"
"Não durmo esta noite,o sol já surge de trás da enorme colina de areia, banhando a face dos que ainda dormem. Aquele garoto levanta e vem correndo a carroça ver como esta seu irmão. Balanço a cabeça de um lado para o outro, dizendo palavras para suavizar sua perda. Não adianta. O garoto cai em prantos, os outros membros da expedição o acolhem naquele momento. É triste, mas não podemos parar."
"Um rápido funeral é feito, enterrando o corpo do homem na areia, antes de prosseguirmos. O garoto recusa-se a ir. Os outros membros sabem que uma parada é arriscada, e com violência puxam o garoto de cima daquele túmulo raso. Ele grita de desespero querendo ficar com seu irmão. Isso dá pena, mas não existe ninguém que consiga vencer a morte, pelo menos não até encontrarmos o artefato."
"A expedição continua deixando aquele garoto para trás. Eu peço que parem a viagem por alguns momentos, para que eu converse com o garoto. E assim foi feito. Mal dou dez passos aproximando-se dele, e ouço barulho de gritos da expedição. O deserto faminto, está os engolindo. Corro em direção a expedição, mas já é tarde. A carroça já estava coberta pela areia. O que foi isso? Não consigo explicar."
"Olho para trás, e vejo o garoto com aquele punhal de pedra em mãos. Ele vira-se para mim dando um sorriso, e coloca a ponta do punhal contra seu peito, abre os braços. Corro para tentar evitar mais uma tragédia, mas tropeço em minhas vestimentas caindo na areia. O corpo do garoto cai ao chão, e seu sangue mancha a areia. A tristeza é enorme, o desespero toma conta de mim."
"Levanto, e corro para longe da li como posso. Não sei para onde estou indo, só quero estar longe dali, só quero estar em casa. Subo a enorme colina a passos apressados. Meus pés afundam cada vez mais na areia, chego ao topo e caio de joelhos sobre essa colina. Colocando as mãos no chão, bato minha cabeça contra a areia. Levanto a cabeça com os olhos cheios de lágrimas, porém elas não caem."
"Eu queria que tudo aquilo fosse mentira. Eu queria estar em casa. Em queria nunca ter começado essa expedição. Tantas mortes sem motivos. E somente sobrou uma única pessoa, Eu. Alguém totalmente despreparado para situações como esta. Já não tenho comida, só me resta meio cantil de água. Não tenho transporte, irei morrer com certeza. Levanto minha cabeça e olho para frente, lá estão as ruínas..."
Bom conto. Leves erros, mas como vivo dizendo: sumirão com o tempo.
ResponderExcluirVocê tem se revelado um bom escritor, amigo, tem talento, mas deve praticar, assim, chegará a seu estilo.
Parabéns!
Sorte a nós com esse ideal que um dia será real!
Ass: Lázarus